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A Escravidão da Vontade

“Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. ” 

(Jo 8.34). 

 A filosofia mais popular na mente humana é a de que o ser humano goza de livre arbítrio. O leigo pensa que livre arbítrio significa liberdade e capacidade para fazer o que bem quer e entende; e, que isso também se aplica no seu relacionamento com Deus, no destino de sua vida, inclusive com respeito à salvação. Será que livre arbítrio significa isso mesmo? Será que de fato existe livre arbítrio? Será que Deus está sujeito a essa filosofia? Se ele existe como  o era antes da queda? E depois da queda, como ficou ele ficou? E quando o pecador se converte, como o fica o mesmo?

Gostaria de começar definindo o que é livre arbítrio.  Os pensadores dizem que livre arbítrio é uma filosofia que outorga ao ser humano o direito de escolha entre o bem e o  mal; como também outorga ao indivíduo o direito de agir por si mesmo. René Descartes (1596-1650) associa a liberdade ao conceito de livre-arbítrio; e, diz que o homem é livre na medida em que pode escolher fazer ou não alguma coisa sem ser coagido por força exterior.

Eu considero o “livre arbítrio”, matéria que se aprende nas instituições de ensinos seculares, como uma filosofia que rema contra a doutrina da predestinação, matéria que se aprende na igreja.

Mas, voltemos a questão do livre arbítrio. Em que sentido o homem pode ser considerado livre? Até onde vai essa liberdade de querer ou não; poder ou não poder? É bem verdade que no âmbito das relações humanas o indivíduo goza de certa liberdade. Por exemplo: todos nós podemos escolher sair de casa ou não sair; comer ou não comer; trabalhar ou não; ir à igreja ou não; mudar de cidade; etc. Porém, no tempo da pandemia, fomos obrigados a usar máscara; fomos privados de ir à igreja; nos obrigaram a tomar uma vacina que estava em fase experimental, nos fazendo assim de cobaias. Cadê o poder do livre arbítrio? Vemos que nem diante dos homens temos total liberdade, imagine diante do Soberano Deus.

Mas, dar para a gente raciocinar um pouco? O que significa a palavra livre? Que significa arbítrio? Diz o Dicionário que livre é aquele que é senhor de si e de suas ações; aquele que não está sob algum jugo; ou que não é escravo de outrem. Vamos trocar essa palavra escravo por sujeito, para amortecer um pouco o impacto da palavra. Existe alguém no mundo que não seja sujeito a alguém ou a alguma coisa, sem que com isso sofrer o dano? A resposta é: Se existe alguém livre, esse alguém é Deus. Ele sim. Além de livre, é Soberano. Essa prerrogativa dEle, leva toda a criação a ser sujeita a Ele. Sim ou não?

Arbítrio quer dizer Juízo, sentença de árbitro; arbitragem. Dessa palavra se origina a palavra arbitrar, que é o mesmo que julgar. Como se julga? O julgamento deve ser de acordo com a consciência, ou com as leis estabelecidas.  Que é a consciência? A consciência é o juiz da alma humana. Então, livre arbítrio quer dizer, liberdade para julgar entre o bem e o mal. Porém, escolher fazer o bem ou mal depende da vontade, a qual  já é  outra faculdade do ser humano. Porém, segundo a teologia a vontade humana está escravizada a uma série de coisas que tomaram força depois da queda. 

A teologia apresenta o ser humano com perfeita capacidade de arbítrio antes do pecado. Depois do pecado, nada no homem ficou livre. O ser humano tem o arbítrio, ou seja, a capacidade de julgar entre o bem o mal, porém, tanto a liberdade como a capacidade de julgar bem, ficaram prejudicadas pela entrada do pecado, pois este corrompeu a consciência do ser humano. O homem não é mais um ser livre. Veja as coisas a quem o homem ficou sujeito, além da sujeição ao próprio Deus: a) Sujeito ao pecado: (Jo 8.34; Pv 5.22; 2 Pe 2.19; Rm 6.14, 16, 17, 19, 20; 7.14, 25); b)  Sujeito ao diabo: (At 26.18; Ef 2.2; 6.12; Cl 1.13;  Hb 2.14-15; 2 Pe 2.19); c) Sujeito à vontade carne, ou seja, da natureza humana dominada pelas paixões mundanas (Ef 2.3; Rm 7.5, 18; Rm 8.7; Ef 2.3; 4.22; Cl 3.9);  d) Sujeito ao mundo, ou seja, a este século, ou a esta era. Mundo, no sentido pecaminoso é um espírito,  um pensamento; é o  sistema mundano (Rm 12.2; Gl 1.4; Ef 2.2; 1 Jo 2.15; Tg 4.4).

Muita gente acha que o ser humano se encontra como que em um caminho bifurcado em “Y”, onde se caminha para ou céu e para inferno. Mas, em determinado momento, chega-se na bifurcação onde o camarada tem que escolher o caminho do céu ou do inferno. Na vida real não existe a tal bifurcação. São dois caminhos paralelos, que nunca se misturam; os dois são totalmente diferentes. O ser humano, por uma questão federativa, caminha o tempo todo na perdição (Rm 3.12), precisando atender ao chamado do evangelho para voltar do caminho da perdição, e entrar no caminho da salvação, que é um caminho estreito, no qual nunca esteve antes (Mt 7.13-14).  Só que ele é um morto, portanto não tem vontade própria (Ef 2.1); o caminhante, além de morto, está amarrado pelas cordas do seu pecado (Pv 5.22); além do mais, o diabo o mantém preso no seu império (Cl 1.13); e, ainda o arrasta no caminho pecaminoso deste mundo (Gl 1.4), até sepulta-lo numa profunda cova, que o inferno (Lc 16.23). Satanás não desistirá jamais do pecador, que é o seu escravo. Martinho Lutero dizia que o homem é semelhante um cavalo, cujo cavaleiro, o dirige para onde bem quer e entende. Ou seja, o homem é dominado por Deus ou pelo diabo. Quem é dominado por Deus? O que se converteu a Ele. Então, para o pecador só resta clamar; ele tem o direito de clamar por Jesus Cristo, que se apresenta como o Seu Salvador. Dele está dito: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. ” (Rm 10.13); e, será liberto (Jo 8.36).

O pecador, uma vez convertido a Cristo, recupera seu livre arbítrio, e pode ser considerado livre, pois para a liberdade foi que Cristo o libertou (Gl 5.1). Quando está liberto, ele se transforma em escravo de Deus (Rm 6.20-22), pois, foi redimido dos seus pecados (Ef 1.7). Redenção significa libertação, reabilitação, reparação e salvação; é o ato de adquirir de novo, resgatar, tirar do poder do alheio, do cativeiro, e livrar das penas do inferno.

Resumindo: antes do pecado o homem tinha liberdade em todos os aspectos, porém era sujeito apenas ao Seu Criador; depois da queda, o homem se tornou escravo do diabo, do mundo, de si mesmo, e, de toda sorte de paixões ruins; mas, em Cristo ele readquire sua liberdade. Livre arbítrio para o homem sem Cristo é uma falácia espiritual. Com Cristo, temos plena liberdade. Você já foi liberto? 

                                                                                                                                                                                                        Pr. Luiz Dias da Silva                 

 


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